sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ironias

Muito tempo sem escrever, muito tempo sem inspiração, muito tempo sem vontade de escrever. Nesse meio tempo, o mundo entrou em pânico e até o momento ninguém achou a porta de saída. Pânico em um cinema em chamas, normalmente muita gente morre pisoteada pela turba desnorteada.

Brasileiros já estavam desacostumados a tanta crise mas não deixa de ser um filme já visto. Para os habitantes do primeiro mundo era um filme que não viam desde a Segunda Guerra. O mundo ficou louco: os brasileiros privatizaram seus bancos governamentais e venderam as empresas estatais porque o FMI, os grandes bancos internacionais e outros organismos disseram que o livre mercado era a única salvação. E agora o livre mercado reza para que a estatização salve o mundo. Ironias!

terça-feira, 1 de julho de 2008

A classe média que bebe e mata no trânsito

A classe média reclama da violência, das mortes que acontecem por atacado, do domínio do tráfico no Rio de Janeiro, e por aí vai. É também é muito reveladora a reação dos membros da classe média em relação à nova proibição de beber qualquer quantidade de álcool ao se guiar um veículo automotor. Muitos homens e mulheres nas reportagens mostravam suas racionalizações para defenderem o direito de encher a cara e dirigir. Claro que todos afirmaram que duas taças de vinho ou dois copos de cerveja ou um cálice de conhaque não os atrapalham na direção dos veículos. Também é óbvio que nenhum deles disse que dificilmente se limitam a duas doses de qualquer coisa. Quantos colegas eu vi sairem tortos dos bares e pegarem seus veículos. Provavelmente todos sortudos por nunca terem se acidentado mas infelicidade para muitos outros que perderam as vidas por causa de um motorista embriagado. Eles deveriam ir consolar o marido que dias atrás perdeu mulher e os dois filhos ao ter o carro atingido por um caminhão conduzido por um motorista bêbado quando esperavam pelo regresso do chefe da família que foi comprar gasolina para o veículo parado no acostamento por falta de combustível. Deveriam também consolar o homem morto dentro do posto de combustível ao ser atingido por um veículo dirigido por outro motorista bêbado. As estatísticas mostram que a maioria dos acidentes com mortes foram causadas por motoristas que tinham bebido.

A classe média reclama da violência praticada pelos criminosos mas tem um arsenal de desculpas para as milhares de mortes no trânsito brasileiro principalmente porque é a classe média que tem automóveis. A classe média pode beber e dirigir impunemente afinal de conta criminoso é quem usa arma.

Sinceramente só espero que a lei tenha sucesso em diminuir tantas mortes. E eu vou continuar fazendo o que sempre fiz: se beber não dirijo e se dirigir não bebo.

O preconceito nosso de cada dia

Já dizia minha avó que em boca fechada não se entra mosca.

Ontem (30/06) a modelo Isabeli Fontana num programa de TV em rede nacional disse que não gostaria que seus filhos pequenos fossem gays. E um ditado popular também diz que a emenda pode ser pior que o soneto: tentando amenizar o que tinha dito ela acrescentou que conhece gays e que os adora. Aliás o mundo é cheio de gente que adora gays desde que não sejam parentes próximos, assim como muitos têm amigos negros mas não se casariam com eles. Como se gay e negros fossem câncer, falemos, conversemos abertamente sobre o assunto principalmente se a doença acontecer na casa do vizinho.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O trânsito de Sampa

A minha rua e outras em torno do prédio onde moro sempre foram tranqüilas mas agora todos os dias pela manhã estão congestionadas de carros. Todas as reportagens que vejo ou leio mostram que as pessoas que cruzam a cidade de carro gastam duas horas para chegar ao trabalho e outro tanto para voltar. Em cinco horas de trem, com incontáveis paradas, se vai de Nice a Milão. Em cinco horas e meia se viaja entre Rio e São Paulo de ônibus.

Linhas de trem ou de metrô não se constroem de hora para outra e tampouco abertura de novas avenidas resolverá o problema. Para situações de caos, medidas paliativas não resolvem. São Paulo é um boa cidade mas o trânsito está transformando Sampa num inferno.

Esteriótipo

Trabalhei em cartão de crédito e sempre que aparecia um erro em alguma conta de cliente costumávamos dizer: 1 é "alguns", dois são muitos e três são todos. Em miúdos, 2 clientes com o mesmo problema geravam um estresse enorme porque os "terrorristas" de plantão criavam pânico dizendo que todos os clientes tinham problemas, poucas vezes alguém fazia essas afirmações baseado na realidade. Poucos exemplos eram suficientes para a generalização.

Temos idéias pré-concebidas em relação a nacionalidades, religiões e a orientações sexuais. Quantos por aqui têm idéias idiotas em relação a argentinos sem nunca ter cruzado com um na vida. Outros falam mal do modo de vida americano sem nunca ter pisado por lá. E normalmente baseamos nossas opiniões no que lemos sem nunca termos vivenciado. Gente boa e gente má existem em todo canto do mundo, independentemente do sexo, da religião, da cor, da idade, etc. Sempre ouvi dizer que os franceses evitam falar inglês mesmo sabendo. Minha experiência me mostrou que muitos franceses não falam inglês porque não sabem, não porque não gostem.

Generalizar é sempre mais fácil, evita o esforço de aprendizado.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Desigualdade racial

Ontem, 13 de maio, se comemorou os 120 anos do fim da escravidão no Brasil. Olhando os dados referentes aos negros, falta muito ainda para se comemorar. O IBGE diz que até o final deste ano, negros e pardos superarão a população branca. Em 2010, serão a maioria absoluta. A renda dos negros, se mantidos os atuais programas de distribuição de renda, será equivalente a dos brancos apenas em 2040. No domingo veio matéria no jornal dizendo que somente 3,5% dos cargos de chefias eram ocupados por negros. E o Supremo Tribunal Federal deverá julgar se o sistema de cotas para negros vigentes em algumas universidades é constitucional.

Os grupos a favor e contra as cotas esgrimem seus argumentos para embasar suas convicções. O argumento mais usado contra as cotas é que o problema reside na falência do ensino básico que prejudica os mais pobres, grupo no qual se enquadra a maioria dos negros. Sem um ensino básico de qualidade, poucos pobres, incluídos os negros, chegarão à universidade. Eu também acredito que seja verdade porém chegar à universidade não resolverá a questão. Na TV uma procuradora do Distrito Federal, que era contra as cotas, usou o argumento mais batido, surrado e falso para defender sua posição. Segundo ela, o que há no Brasil é o preconceito econômico: negro rico vira branco e pobre branco vira negro.

Para mim os grupos a favor e contra as cotas parecem esquecer que o simples fato de alguém entrar numa faculdade não garantirá que a discriminação deixará de existir. Hoje em dia há muitos negros e pardos com boa educação e que nem por isso ocuparão cargos de chefia. Entre um negro e um branco em condições de igualdade, a maioria das empresas privadas optarão pelo negro.

Quando fazia o mestrado, tive de fazer um trabalho sobre recrutamento e seleção. Eu recorri ao banco onde eu trabalhei e contei com a ajuda da responsável por RH da área onde fui funcionário. Ao me falar dos critérios de seleção, ela me fez a seguinte pergunta: quantos negros você já viu trabalhando no banco? Ela mesmo respondeu, existe uma norma não escrita mas o banco não admite negros. Eu perdi uma chance de ouro de perguntar por que eu e outro colega havíamos sido admitidos.

Há pouco mais de 2 anos, conversando com um colega de trabalhei, ele me disse que estava selecionando pessoas para trabalharem com ele. A mulher de RH do banco ligou para ele dizendo que tinha um candidato mas que havia um pequeno problema, ele era negro. O meu amigo teve de se controlar para não responder indignado porque ele também era negro. E seguramente eu deixei de ser aprovado em entrevistas ou promovido por ser negro. Para a maioria das empresas, negro de terno e gravata é segurança de loja ou de casa noturna. As empresas privadas sempre utilizarão o argumento mágico: o candidato ou funcionário não tem o perfil exigido para tal função.

A discriminação por causa da cor da pele existe e não é apenas uma questão de escolaridade ou de situação econômica. E o pior de tudo é que é quase impossível de ser provada. Não basta dar acesso à universidade, é necessário garantir que os ambientes de trabalho reflitam a distribuição demográfica da população brasileira. Não dá para garantir que não existe preconceito em empresas brasileiras que são tão brancas quanto empresas nórdicas.

As péssimas mudanças

Para não dizer que tudo está na mesma após 8 meses fora de Sampa, o trânsito piorou. O estado caótico do atual trânsito deve-se às políticas públicas que privilegiaram o transporte individual em detrimento do transporte de massa e, ultimamente, ao crescimento econômico. Os financiamentos longos causaram recordes na produção e venda de automóveis, a tecnologia flex dos carros novos permitiu que os motoristas pudessem optar entre o álcool e a gasolina. Desse modo os motoristas brasileiros podem escapar da gasolina cara e encher a cara do automóvel com álcool barato. Resultado final: horas gastas num trânsito que cada vez se move menos.

Ontem na feira fui surpreendido com o aumento de 25% no preço do pastel. Ainda assim continua gostoso e barato, R$ 2,50, o equivalente a menos de € 1 que não comprava nada parecido na Riviera. E os demais preços começam a refletir a alta dos alimentos enquanto computadores ficam mais baratos.

Ontem Marina Silva pediu demissão do cargo de Ministra do Meio-Ambiente. Para muitos ela poderia ser uma chata, inflexível por defender os princípios nos quais acreditava. Em vários órgãos subordinados ao ministério houve casos de corrupção mas nenhum respingou nela que sempre me pareceu íntegra, e sinceramente espero que essa imagem perdure. As desventuras dela no ministério são a faceta do governo petista, e sejamos justos, também dos governos que antecederam. Quando se lê os jornais, tem-se a impressão que a devastação das florestas parece ser causada por gente inescrupulosa que não respeita as leis. De fato é política oficiosa patrocinada pelos governantes da região. No Mato Grosso, o governador é o maior plantador individual de soja do mundo. É a raposa tomando conta do galinheiro e todos fazem cara de espanto e surpresa com o desaparecimento das galinhas.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Fome de quê?

Por aqui, o assassinato da menina continua a dominar os noticiários. Em segundo plano vem a questão da alta dos preços dos alimentos. Por aqui os preços também subiram mas ainda um quilo de carne continua mais barato que três pedaços de bife na França, pelo preço de uma dúzia de laranjas na feira daqui de perto no máximo eu compraria três laranjas no reino do Sarkozy.

A China e outros países ricos em dinheiro mas pobres em terras cultiváveis começam a planejar a compra de terras na África e na América Latina para proverem sua segurança alimentar. Veremos se aquilo que pode começar como um mero negócio de compra de terras não termine num futuro tão longínquo como uma invasão militar sob um pretexto qualquer.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

E tudo continua na mesma

Quando estava na França nunca deixei de ficar a par do que ocorria no Brasil porque lia as notícias do país na internet. Entretanto sempre pareciam notícias de um lugar distante que por acaso eu conhecia. Estando de volta a Sampa, os noticiários da TV parecem gritar nos meus ouvidos: bem vindo à realidade da violência dos campos e cidades, dos políticos patéticos, da impunidade dos criminosos, da corrupção escancarada e daqueles que querem seus 5 minutos de fama em cima da desgraça alheia.

O mandante da morte da missionária americana foi absolvido de um crime que passa a não ter causa. No norte posseiros de terras públicas e índios que acham que não precisam respeitar leis, enfrentam-se nas barbas das forças de segurança federais. Político acusado de corrupção repete o chavão de que está sendo vítima de complô por defender os trabalhadores. Um congresso que causaria menos danos ao país se seus membros ficassem em casa recebendo seus gordos salários. Nesses últimos anos simplesmente não fizeram nada a não ser livrarem seus pares dos processos de má-conduta. E por último, o bombardeio contínuo de notícias e detalhes da morte da menina jogada pela janela. E os aproveitadores de plantão que querem aparecer como se estivessem genuinamente preocupados com justiça: policiais, promotores, assistentes sociais, vizinhos, mídia todos têm algo a dizer sobre um crime bárbaro e para isso convocam coletivas de imprensa. As outras milhares de mortes de inocentes parecem que ocorreram no outro lado do mundo, nenhuma indignação.

Bastou a economia do país voltar a crescer para entrarmos no paraíso, todas as mazelas parecem bobagem perto dos recordes de vendas do comércio, dos milhões de automóveis produzidos, das descobertas de reservas de petróleo. Se eu não soubesse que estava no Brasil, poderia ter a sensação de ter desembarcado em outro país.

domingo, 4 de maio de 2008

Sampa

Desci no aeroporto de Lisboa vindo de Nice e imediatamente fui levado para o vôo para São Paulo. Nunca foi tão rápido passar pela checagem de passaporte. No ônibus para o avião já dava para saber que estava no Brasil pois três brasileiros, duas mulheres e um homem, falavam bem alto e o cara escutava música em alto volume no seu celular. Não consigo explicar porém havia no modo de falar dos três um quê de jeito esperto, de jeitinho brasileiro de falar. Fala-se muito do famoso jeitinho brasileiro como uma capacidade de ser flexível mas para mim muitas vezes parece ser o jeito de se levar vantagem.

Pela primeira vez peguei uma fila enorme para passar pelo controle de passaporte num aeroporto brasileiro. Anteriormente os policiais apenas olhavam os passaportes, agora checam os dados no terminal de computador. Um policial federal buscava nas filas os brasileiros expulsos de Portugal e os deixavam sentados aguardando, talvez, por algum procedimento especial. O certo é que o policial tornava a situação dos três jovens mais embaraçosa do que já era.

E o trânsito intenso e vagaroso me esperava para saudar o meu regresso a Sampa.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Mônaco

Aproveitando o último dia de França, resolvi bater pernas em Mônaco a 40 minutos de trem daqui.

O que me impressiona é como um país/cidade que ocupa uma pequena área nas encostas de um rochedo (no Rio de Janeiro chamaríamos de morro como todos os que existem em terras cariocas) encravado em território francês consegue atrair tanta atenção e dinheiro. A cidade está em obras para o Grande Prêmio de Fórmula 1, disputado nas ruas da cidade, não existe um autódromo para isso. Alguns poucos privilegiados muito endinheirados poderão assistir a tudo tomando sol nas coberturas de iates espetaculares. As Ferraris, os Bentleys, os Porsches continuam subindo e descendo as ladeiras da cidade e os pobres mortais como eu não podem deixar de se dar conta de que como há tanto luxo e dinheiro disponíveis para muito poucos.

domingo, 27 de abril de 2008

Au revoir

Vivi duas épocas bem distintas aqui na França: na primeira, o melhor lugar da Riviera era o aeroporto que me levaria para o Brasil , eu não conseguia gostar daqui. A segunda é agora, final da minha estadia aqui, em que passei a gostar muito de viver na região.

Essa será uma das lições daqui: mudar idéias, experimentar coisas.

Vou sentir saudades da França.

Coisa de louco

Está sendo exibido um programa sobre o tratamento psiquiátrico na França. Apesar de ser sério, os caras resolveram exibir a entrevista entre um médico e um paciente que relatava suas visitas à Casa Branca. Ele já tem marcado um próximo encontro em Washington. Talvez parte do problema do presidente americano seja função dos conselhos recebidos nestas visitas.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

João Sem-Braço

É bem comum ouvir a expressão que fulano está dando uma de João Sem-Braço. Ontem batendo pernas pelas vielas de Antibes acabei tropeçando com alguns.

É de boa qualidade?

Estava na praia quando uma menina de cerca de 12 anos corre para a mostrar a sandália havaiana para mãe dizendo que era feita no Brasil. Em seguida ao espanto quanto à origem da sandália rosa, pergunta para a mãe se a sandália era de boa qualidade. A mãe responde que sim de modo a encerrar o assunto. Depois a menina e o irmão mais novo vão jogar frescobol como se estivessem nas areias da zona sul carioca. Mal sabe a menina que o esporte também tem a mesma origem da sandália.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Farofa na praia

Quando eu era pequeno, ir à praia era o programa de férias. Íamos em bando, irmãos, os primos, conhecidos. Uma hora de ônibus carregando a bolsa de supermercado carregada de comida para ser devorada na praia. Era o que o povo chama hoje de fazer farofa na praia, algo que horroriza os bem-nascidos. Para estes, quando muito, bebida em recipientes térmicos e algum sanduíche embrulhado em papel laminado para manter o ar chique na praia. E o pior é que eu mesmo comprei essa idéia idiota.

Juan les Pins não é exatamente o piscinão de Ramos, haja vista os iates parados por aqui e os preços dos aluguéis no verão. Hoje na praia o que eu mais via eram pessoas carregadas com suas bolsas de supermercado, devorando sanduíches ou a comida preparada em casa. Coisa mais normal do mundo assim como as mulheres de todas as idades tomando sol de topless, os bem-nascidos das praias brasileiras teriam uma crise de piti.

Contrastes da cozinha francesa

O restaurante da escola era o último lugar onde eu iria atrás de uma refeição. Nunca consegui entender como era possível transformar bons ingredientes numa comida intragável, simplesmente horrível. Nada que fizesse jus à fama da cozinha francesa.

O oposto da escola é o pequeno restaurante que fica na rua da praia de Juan, operado por uma família. A senhora é quem serve os clientes e se a coisa aperta o marido dela vem ajudar. Não é um restaurante cinco estrelas, longe disso. Porém a comida é simplesmente maravilhosa. O tempero da salada é ótimo, eu simplesmente não acrescento nem sal como sempre costumei fazer mesmo antes de provar a comida em outros lugares. Até rúcula, que acho uma verdura indigesta, fica bem na salada. Nunca fui fã de mariscos porém passei a gostar. A salada César que comi hoje com camarão substituindo o filé de frango estava simplesmente maravilhosa. Estou me permitindo ao luxo de comer nesse restaurante porque são meus últimos dias na França, algo tipo última refeição de um condenado.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Praia e bonde



As praias começam a ficar cheias de novo, os preços dos restaurantes sobem com o aumento da temperatura e os turistas começam a andar em bandos pela região.

Um dia o Rio e São Paulo tiveram bondes que foram substituídos pelos ônibus e os trilhos foram cobertos de asfalto. O centro de Milão é servido unicamente por linhas de bondes. Nice inaugurou há pouco tempo o seu "tramway". É silencioso, confortável, não poluente e não precisa de obras caras com a do metrô. Não sei se seria solução para São Paulo mas serviu para tirar ônibus da via principal de Nice.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Maus serviços franceses

Na semana passada fui ao banco francês para iniciar os trâmites para encerrar minha conta antes de voltar ao Brasil. Acertei com a gerente a transferência de parte de meu dinheiro para minha conta no Brasil, deixando o restante na conta para que eu pudesse pagar minhas despesas com o cartão de débito. E trouxe comigo as cópias das minhas solicitações assinadas por ela. Nesse meio tempo telefonei ao gerente brasileiro para cuidar do depósito da remessa na minha conta.

Hoje resolvi checar a operação no site do banco francês e descobri que o banco transferiu todo o dinheiro, deixando-me com zero na conta. Fui à agência logo em seguida. Lá quiseram me convencer a usar meu cartão de débito do banco brasileiro já que não podiam fazer nada. Em francês e em inglês tive de dizer que eles erraram, eles têm de consertam a M que fizeram. Pediram-me até sexta feira para acertar, por precaução retirei dinheiro do meu limite de crédito. É claro que irão querer me cobrar juros e tarifas por isso, também é óbvio que não pagarei. Agora o problema será deles de me cobrar pelo saque a descoberto que só será pago quando eles fizerem voltar à minha conta o dinheiro indevido que transferiram. Por causa de uma grande mancada operacional deles que quase me deixou numa grande enrascada, eu poderia viver uma semana de inferno.

Para tudo ficar igual

Em 1982 os jovens argentinos protestavam diante da Casa Rosada contra a ditadura militar. Naquele ano os generais invadiram as ilhas Malvinas, território britânico, reivindicadas pela Argentina. Eu lembro de ver na tv os argentinos cheios de orgulho apoiando a desastrada aventura, celebrando diante do mesmo lugar onde antes protestavam. Os ditadores enfiaram o país num desastre para obter um pouco mais de sobrevida a um regime que agonizava. O resultado final é um monumento em Buenos Aires aos Caídos e a tentativa de esquecer o que ocorreu.

Isso me veio à lembrança ao observar o furor nacionalista dos jovens chineses porque acham que há um complô mundial contra o país em razão dos vários protestos gerados pela repressão no Tibete. A França virou o alvo maior dos protestos por causas dos incidentes que marcaram a passagem da tocha olímpica por Paris. Também li em algum lugar que o progresso econômico ocorreu por causa do regime autoritário e não apesar dele. Para o governo chinês, as Olimpíadas poderão não representar a admiração do mundo pelas conquistas recentes do país porém conseguiram o que não imaginavam, o apoio quase fanático de seus jovens. Ora se o regime conseguiu o apoio daqueles que normalmente reivindicam mudanças, seguramente tudo permancerá igual. Para sorte dos jovens chineses, o episódio da tocha será menos sangrento que a aventura dos últimos generais-ditadores argentinos

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vanguarda uruguaia

Impressões são sempre pessoais e, portanto, nem sempre baseadas num conhecimento real. Sempre pensei no Uruguai como um país conservador, de tradições machistas traduzidas na figura do gaúcho. Do Uruguai conheço Colonia, cidade que é ligada a Buenos Aires, Argentina, por barco de alta velocidade. Também estive em Rivera cidade gêmea de Santana do Livramento no Rio Grande do Sul, que são divididas unicamente por uma avenida, sem controle de passaportes ou de tráfego de automóveis. A vida de Rivera é ligada ao Brasil porque é uma zona de compra livre de impostos para os portadores de passaportes não-uruguaios, português é língua corrente. Era muito interessante ver que os telefones localizados de um lado da avenida faziam ligações internacionais para o outro lado. Eu entrei numa lanchonete em Rivera e pedi um guaraná. A mulher do balcão me respondeu irritada em alto e bom português: isto aqui não é o Brasil, não vendemos guaraná.

Esse pequeno país acabou de oficializar a primeira união civil de um casal homossexual depois de ter sido o primeiro país latino-americano a legalizar as uniões civis há 3 meses atrás.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

O amor que cega e compraz

O rosto de Giovanni se ilumina quando ele me mostra o cordão de ouro com medalha em meia-lua com motivo religioso que ele comprou para Juanita. Ele senta na cadeira diante de mim e fala de sua paixão pela bela cubana, dos presentes que comprou, do mês que estará junto dela mas também fala com lucidez de que sabe que ela não o ama. Ele quase chora com o email que recebe da ilha onde Juanita diz que está contente porque ele irá visitá-la em novembro.

Eu ouço com paciência. Quando ele me pergunta como deve proceder com os presentes e com a pequena ajuda financeira que ele pretende dar à amada, eu não consigo evitar de dizer-lhe que se ela fosse professora teria de trabalhar 20 anos sem gastar o salário para juntar o que ele pretende dar-lhe em um mês. Que ele próprio precisa trabalhar alguns meses para juntar este pequeno presente. E me surpreendo quando ele me diz que desde que voltou da ilha nunca mais fez amor com outra.

No final de tudo, eu penso que de Giovanni todos têm um pouco.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Pelo progresso da medicina

Estou assistindo a um programa na TV francesa que me fez lembrar de um ditado brasileiro: "De graça, até injeção na veia". É sobre um grupo de cobaias humanas para testar novos remédios antes de serem liberados para o mercado. Há muita gente colaborando com o progresso da medicina por uma pequena compensação financeira de 150 euros por dia.

O ditado brasileiro está precisando ser atualizado.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Esse é o inglês da globalização

Sei que não serei politicamente correto ao postar esse vídeo do You Tube mas era assim que várias apresentações durante o curso soaram aos meus ouvidos, em algumas ocasiões era simplesmente impossível compreender o que eu escutava.

Até de Brasília podem soprar bons ventos

Projeto do governo Lula reconhece união gay de imigrantes

Proposta de mudança no Estatuto do Estrangeiro permite que homossexual estrangeiro no país obtenha visto para companheiro

Novo projeto veda, também sem distinção de sexo, a expulsão, em caso de crime, de estrangeiro que possua companheiro brasileiro

Se a notícia publicada na Folha de hoje for verdadeira, será a primeira vez que uma ação do governo federal me surpreenderá positivamente. Há alguns pontos a serem obervados:

  1. Reconhece a existência de uma união homossexual entre estrangeiros e entre um estrangeiro e um brasileiro. Se uma relação entre brasileiro e estrangeiro garante a este último o direito de não ser expulso em caso de crime, tem de ser óbvio que um estrangeiro que não cometeu crime também não pode ser expulso ou visto de outro ângulo, tem direito ao visto de residência e trabalho no país.
  2. Se direitos são estendidos a uma união homossexual que envolva pelo menos um estrangeiro por que então a união homossexual entre dois brasileiros não garante direitos semelhantes a união entre casais héteros?
  3. Se o governo gosta tanto de bater no peito para dizer que tem coragem de desagradar a muitos para gastar no social, por que não tem a mesma coragem para garantir direitos de muitos?
  4. E por último minoria é um termo que muita gente adora usar principalmente quando se usa porcentagem. Dez por cento de salário-mínimo brasileiro é realmente pouca coisa mas 10% de 186 milhões de habitantes são 19 milhões de pessoas, é muito mais que as populações de muitos países europeus ou quase 50% da população da Espanha. Estatística é a ciência das probabilidades, não das certezas.
Ninguém tem de gostar ou mesmo aprovar porém respeito é obrigação de todos assim como todos que têm os mesmos deveres têm que ter os mesmos direitos.

Sede de quê? Fome de quê? 2

A reportagem da Folha de hoje reproduz o comentário do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que havia dito temer "conflitos terríveis" ou "guerras" no futuro caso a questão da oferta de alimentos não seja equacionada no médio e longo prazos. E o ministro da economia brasileiro, Guido Mantega fez a seguinte declaração sobre a proposta do Banco Mundial acerca do uso de recursos naturais: "Ressaltamos que qualquer iniciativa nessa área deve reconhecer plenamente a soberania e o direto de cada país sobre seus recursos naturais".

Estas declarações precisam ser entendidas dentro do contexto de preços altos para os alimentos e suas causas. E os dois sabem claramente que muitos países não resistirão a aventuras intervencionistas se suas populações correrem o risco de fome assim como os países produtores de alimentos sabem que poderão ser os alvos dessas empreitadas.

O Rio que não é maravilhoso

No próximo domingo, o Rio Maravilhoso estará na TV francesa num documentário cuja chamada é: descubra o que se esconde por trás do carnaval carioca. Em cena, tropa de elite e a guerra dos morros cariocas. Uma reportagem sobre a esquadrilha de mosquitos que têm matado os cariocas poderia seria o complemento desta reportagem. E cada vez mais a idéia de tornar o Rio um destino preferencial de destino de turistas internacionais desce pela vala comum para onde vão os mortos cariocas.

Apesar de não gostar das estilizações enganosas sobre o Brasil ainda prefiro ouvir a música "Copacabana" de Barry Manilow cantada em francês, com dançarinas vestidas de rumbeira e os dançarinos em trajes de ópera do malandro. Ainda que eu saiba que a música fale de um clube noturno em Nova Iorque e não exatamente da princesinha do mar porque o bairro carioca não fica ao norte de Havana como diz a canção assim como Lola e Rico não são exatamente típicos nomes brasileiros.

domingo, 13 de abril de 2008

As dores de amor e de saudade

Vou chamá-lo de Giovanni, o italiano de quarenta e muitos anos que conheci recentemente enquanto estava conversando com minha amiga da escola sobre a proposta de dissertação dela. Giovanni fala unicamente italiano apesar de morar na França há alguns anos e ter morado por outros 5 anos em Cuba. Ele chegou muito ansioso à mesa onde eu estava querendo que eu enviasse naquele exato momento um email para Cuba porque sabia que eu falava espanhol. Levou algum tempo até eu entender exatamente o que ele queria já que não falo italiano.

Acabei enviando um email para o endereço de uma senhora em Cuba que irá alugar sua casa para Giovanni quando ele for a Cuba em novembro. O email era para ser entregue a Juanita que mora na mesma cidade. Eu fiz o que ele pedia achando que tudo acabaria ali. A resposta que recebi não poderia ser mais inusitada já que o filho da dona da casa me perguntava se eu não era filho de um parente dele que havia emigrado para Cuba anos atrás já que eu tinha mesmo nome e sobrenome.

Dia seguinte Giovanni retorna aonde moro pedindo que eu vá com ele até um telefone público para falar com a senhora da casa para perguntar a ela de Juanita. E lá fui eu sem casaco no frio até o telefone que fica a cem metros do prédio. Giovanni falava rápido mas entendi o que dizia: que ele chorava todos os dias desde que partiu de Cuba, que queria morrer na terra de Fidel.

-Luis, diz isso a senhora, pede para ela procurar Juanita. Diz que vou levar um belo "regalo" para ela se me fizer esse favor

A senhora com muita paciência me disse que faria isso, sem necessidade de presentes. Só então me caiu a ficha de que Giovanni estava apaixonado e chorava de saudades.

Depois recebi um email da senhora me dizendo que Giovanni já tinha ligado inúmeras vezes para ela, que ele desconhece a existência do fuso horário, e que eu pedisse a ele para não ligar mais já que ela não tem nada a ver com Juanita. Além de que ele estava atrapalhando e só voltasse a manter contato um mês antes de viajar. E junto veio a resposta de Juanita. Giovanni me fez ler a resposta algumas vezes, sempre fazendo as mesmas perguntas que eu jamais poderia responder. Apesar da barreira de idiomas ele consegue entender o que lhe convém e salta olimpicamente por cima do que não interessa. Ele acha que a resposta de Juanita foi inventada pela senhora da casa para que ele parasse de "encher o saco". Não sei quantas vezes me perguntou se eu acreditava se realmente tinha sido Juanita quem tinha ditado os termos do email.

Desde então eu já encontrei Giovanni várias vezes sempre me perguntando sobre emails de Cuba e até mesmo batendo na minha porta quase à meia-noite. E com tempo fui entendendo melhor a estória de Giovanni e Juanita.

Juanita é uma bela jovem de 22 anos por quem ele se apaixonou e a quem presenteou com pequenas somas em dinheiro pelos padrões europeus e mesmo brasileiros porém enormes do ponto de vista cubano já o salário médio de um professor da ilha é cerca de 25 dólares mensais. Com esses pequenos presentes ela pôde colocar um piercing na orelha e dente de ouro para embelezar o sorriso. Ele sempre faz questão de salientar que conheceu Juanita quando ela tinha mais de 20 anos, que ele não gosta de menores de idade que estão disponíveis aos turistas da ilha caribenha. Giovanni me disse que sabe que não é uma estória de amor, mas ainda assim ele chora por ela. Juanita espera revê-lo em novembro e já deixou ele saber que precisará de 450 dólares para emergências. Giovanni trabalha como um mouro para conseguir economizar o dinheiro dos presentes e do pequeno agrado de alguns poucos milhares de dólares que garantirá a companhia de Juanita enquanto ele estiver por lá. Ele diz que quando era jovem as jovens se achegavam a ele sem necessidade de presentes mas na idade atual isso já acontece mais. Ele já me perguntou o que ele deve fazer pois ele não pode simplesmente abandonar seu trabalho nem Juanita pode vir para França. No fundo ele sabe que se não tiver trabalho pago em euros dificilmente terá o calor do corpo de Juanita. E só faço escutar porque não tenho o que dizer e ainda se tivesse não mudaria o que ele sente. Ademais ele conhece e sabe as respostas às próprias perguntas.

Para mim é difícil lidar com a ansiedade Giovanni porém sigo escutando o que ele fala e servindo de intérprete porque consigo entender como ele sente. Ontem ele me entregou uma carta em espanhol provavelmente por duvidar que eu traduza corretamente o que ele quer dizer. O compatriota dele que escreveu a carta deve falar muito bem italiano porém de espanhol conhece muito pouco. A carta é um monte de palavras em "quase-espanhol" que juntas não fazem sentido e ainda assim tenho de fazer dela um email para que a senhora transmita à bela Juanita. Imagino que a cara de aborrecimento da senhora será menos agradável do que a minha cara de enorme paciência a mais uma solicitação do italiano desesperado.

A ansiedade, a obsessão, a falta de limites, a saudade, o desespero que tomam conta de Giovanni não são exclusividade dele. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, o desencarnado personagem relata as loucuras que fez ao se apaixonar por Marcela. O mundo é assim. Não bastam palavras de conforto, de sabedoria ou de consolo porque somente o contato com o corpo da amada ou do objeto do desejo é capaz de aplacar tanto sofrimento. Depois que o contato físico diminuir a dor, virá a ansiedade de querer ter certeza do que vai dentro do coração e da mente do outro e a partir daí a loucura reinará soberana tentando encontrar em cada palavra ou ato da amada um oráculo capaz de desvendar o futuro.

Cap d'Antibes



Hoje fui passear em Cap d'Antibes que é algo como uma área rural à beira-mar. Há estufas que produzem flores assim como há casas luxuosas em meio a terrenos enormes. Imaginando que um apartamento de 33 m2 pode custar a bagatela de mais de 185 mil euros ( algo como 500 mil reais), os preços daquelas casas devem ter muitos zeros à direita.

A natureza dessa região é um colírio para os olhos, não é de admirar a quantidade de turistas que decidem passar as férias por aqui. A cidade começa a se encher deles. As lojas elegantes estão abertas para os compradores. O sol tirou muita gente de casa e os carros engarrafaram as ruas de Juan les Pins num domingo.

Tudo é relativo

Ele chegava calmamente, sem alarde, tentando se misturar à multidão. Enquanto estava em pé preparando-se para arrumar o seu lugar na areia, eu não tinha como não notar-lhe a bermuda, a papete, a camisa, o chapéu, os óculos escuros e a pele clara como folha de papel A4. Ele era um turista nas praias do Rio. Ele estava mais discretamente vestido que outros que usavam sapatos de couro ou chinelos e meias pretas. Mas a meia preta era o detalhe que os destacavam. Como uma pequena peça de vestuário que passa desapercebida a maior tempo conseguia atrair mais atenção dos que os pequenos aviões que puxavam faixas de propaganda pelos céus das praias cariocas?

Domingo de sol em Juan les Pins as praias começam a se encher de gente. Vou para a praia de camiseta, bermuda, papete apenas sem os óculos de sol, chapéu e, obviamente, não tenho a pele de folha A4. Sem perceber entrei na realidade do local onde já não me parece mais estranho estar vestido assim para ir à praia. Até mesmo o vestuário dos noruegueses da escola que estavam na mesma praia era mais adeqüado à ocasião do que o meu.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Barraco francês

Nunca fui fã dos programas de barraco que vão ao ar na tv brasileira mas aqui na França eles servem para me ensinar francês tanto que consigo acompanhar parcialmente os diálogos e comentários.

Sempre me espantei como pessoas tímidas vão aos programas de tv para se declararem a um amor platônico e receberem um fora em rede nacional. É divertido ver a lavagem de roupa suja que ocorre ao vivo entre casais e famílias. Um dos programas mostrou uma dona de casa de cerca de 40 anos com 3 filhos adolescentes que vivia uma paixão com o namorado de 20 anos. Ela passou a agir como adolecente tardia e os filhos passaram a cuidar de si mesmos, da casa e da mãe que passava o tempo todo de beijos e abraços no sofá com seu garotão. Claro que o programa mostrou a mãe-tornada-adolescente caindo em si e voltando à razão. Para mim muitos desses casos são tão verdadeiros quanto uma nota de 3 reais ou de 3 euros.

Ontem à noite duas mulheres choravam em rede nacional o dinheiro que perderam para dois vigaristas. Uma foi enganada por um radiestesista que além de usar o pêndulo para resolver problemas pessoais se apresentava como conselheiro financeiro, legal e ainda de quebra receitava remédios. Os conselhos e negócios propostos por ele custaram à senhora, ex-dona de uma pequena construtora, 80 mil euros. A outra senhora foi enganada por um pastor africano de fala francesa que prega em inglês para quem entregou 145 mil euros para financiar uma cooperativa de cacau e café em algum lugar da África. O programa filmou as tentativas das senhoras de recuperarem seu dinheiro enquanto os vigaristas negavam na maior cara-de-pau que tivessem enganado alguém, tipo os ladrões do dinheiro público brasileiro em declaração às redes de tv. E mostrou o radiestesista dando uma consulta para uma jornalista fingindo ter um problema amoroso e o pastor no púlpito curando e exorcizando os presentes, tudo filmado com as mini câmeras dedo-duro e com direito a palavrões e quase porradas. Como esperado, nada resolvido, e então as vítimas foram para um banquinho no meio do palco do programa de TV, onde advogados e outros profissionais contratados pelo programa tentavam convencer o escroque a se arrepender ao vivo e a prometer reparar o mal causado. O programa esticou ao máximo o suspense da reparação do erro, com os dialógos entre os profissionais do programa e o charlatão transmitidos em alto e bom som mais as músicas incidentais que aumentavam o clima de suspense. Alguns dos diálogos e situações entre os jornalistas e os espertos eram tão improváveis que poderíamos dar um troféu-asno ou canastrão para os charlatães que atuaram com tanta naturalidade quanto os artistas pornô que gemem e se contorcem nos vídeos especializados. Os advogados do programa tentavam convencer os acusados com ameaças de denúncias por exercício ilegal da medicina e da advocacia, de remessa ilegal de dinheiro, etc. Gritavam, exasperavam-se, mostravam uma indignação e uma sinceridade tão comovente que quase fui convencido a acreditar que iria presenciar um milagre de conversão de um pilantra no mais sincero bom samaritano.

O barrado daqui conta com mais grana para a viagem do jornalista-detetive à África atrás da cooperativa de cacau e café. Mas no final das contas, não há diferença entre o barraco e o “barracô”. Roupa suja e maladragem são iguais em qualquer lugar do mundo.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Sede de quê? Fome de quê?

No "Financial Times" de hoje há uma reportagem que diz que a Arábia Saudita vai reduzir a produção de trigo, isso mesmo trigo produzido no deserto, para poupar água, seu bem mais precioso. Chega a soar estranho para um país que quase se afoga em petróleo afirmar que água é seu bem mais precioso. Entretanto é fácil de entender porque ninguém bebe petróleo ou come nota de dólar que só são úteis na medida em que há água ou comida para serem comprados. Na mesma edição, outra reportagem fala que os governos de vários países estão buscando acordos secretos com países produtores de alimentos para garantir a comida de suas populações.

As tvs mostram a revolta de populações de países pelo aumento dos alimentos. Assisto na tv o descontentamento dos franceses com o aumento de preços. E as estrofes da música Comida parecem perguntas cruéis ao povo que briga pela sobrevivência.

bebida é água.
comida é pasto.
você tem sede de quê?
você tem fome de quê?

A fome ainda é de pão e a sede ainda é de água. As demais fomes e sedes podem esperar porque sem barriga cheia ninguém consegue pensar em muito mais a não ser ficar vivo. É irônico que uma das causas dessas revoltas é o fato de muitos pobres terem começado a comer. É cruel perceber no mundo atual que o acesso à comida e água disponíveis depende de que muitos continuem famélicos.

Os preços altos dos alimentos podem ser boa notícia para os países produtores mas não necessariamente para suas populações que também pagarão mais caro para comer. E seguramente os países europeus não irão parar de subsidiar seus agricultores porque pior do que ter de pagar mais caro por alimentos é não ter de quem comprá-los. Portanto, poucas chances de os europeus deixarem sua segurança alimentar depender das importações de países produtores de alimentos como o Brasil.

Há algum tempo atrás se dizia o que o capital financeiro e a tecnologia eram os fatores mais importantes para os países se desenvolverem. Hoje me parece que as matérias primas voltaram ao palco como divas já que o homem continuará a sentir sede e fome. E um possível cenário sombrio é que países deixarão de ser invadidos por petróleo mas por água e terras cultiváveis.


Centavo é dinheiro

Perto de onde moro em Juan les Pins há dois mercados que pertencem a uma das grandes cadeias francesas de supermecado. Um dos mercados opera sob um nome que enfatiza o menor preço enquanto o segundo mantém o nome da cadeia. O mercado de menor preço tem uma grande variedade de produtos de boa qualidade com a marca da cadeia. O outro mercado fica perto na mesma rua e vende produtos com as marcas dos fabricantes. Basta ver as filas no mercado de menor preço para descobrir que os franceses dão valor ao seu dinheiro. Vejo o mesmo comportamento nos mercados próximos a minha casa em Sampa porém há uma diferença fundamental, nenhum caixa francês ficou me devendo centavos de euro no troco. No Brasil parece uma vergonha exigir o troco correto, avareza não pega bem. O que a maioria esquece é que mesmo as grandes fortunas pode ser convertidas em montanhas de moedas de 1 centavo. A moedinha de 1 centavo não permitirá a ninguém tomar sequer um cafezinho porém é a atitude que importa. O francês comum olha os preços dos cardápios nas portas dos restaurantes para decidir se entra, leva lanche nas viagens longas de trem para não gastar no vagão-restaurante, leva a sacola reciclável ao mercado para não gastar numa nova. Os mercados cobram centavos pelas sacolas. Eu me acostumei a levar a sacola quando vou ao mercado ou usar a minha mochila para trazer as compras para casa. A tv francesa não pára de mostrar reportagens sobre os aumentos enormes que os alimentos tiveram nos últimos meses e o impacto na vida de todos. É contraditório que o povo brasileiro que é mais pobre adote a atitude blasé de não se importar com 1 centavo enquanto o europeu valoriza o dinheiro que tem.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Torre de Babel é cor-de-rosa


A primeira vez que vi o Express 100, imediatamente me veio à cabeça Priscila, a Rainha do Deserto, que é o nome do ônibus do filme australiano. E creio que essa será a imagem que sempre terei do Express 100. O ônibus é todo pintado de rosa por fora e com estofado da mesma cor nos assentos. O painel frontal que leva o número 100 é cheio de brilho, bem chamativo não importa a hora do dia, por dentro tem luzes coloridas, tanto pode ser fresco quanto quente dependendo da estação do ano ou da vontade do motorista. Diferentemente do Priscila do filme, o número 100 não carrega transformistas em show ambulante pela Riviera Francesa. O número 100 liga a cidade de Antibes a Sophia Antipolis onde estão localizadas as empresas de alta tecnologia da região e à escola onde estudo. É expresso porque tem poucas paradas e com a grande vantagem de ser gratuito.

Em alguns horários, o número 100 é simplesmente uma torre de Babel quando os funcionários estrangeiros das empresas de Sophia e os alunos estrangeiros da escola que frequento coincidem de estar no ônibus. Os marroquinos conversam animadamente em árabe e francês, alternam entre esses idiomas sem perceberem e eventualmente usam o inglês. Em outra área, os chineses de Hong-Kong, de Singapura ou da China continental podem estar conversando não tão animadamente quanto os marroquinos. Não consigo distinguir entre os idiomas falados pelos jovens do Laos, da Tailândia, do Cambodja, do Vietnã entretanto todos têm em comum a enorme quantidade de sons nasais. Dá para sentir os sons sendo emitidos pelos narizes.

Para mim o sotaque dos canadenses é o mesmo dos americanos que em algumas horas parecem ser o maior grupo de estrangeiros do pedaço. Alguns canadenses se dão o luxo de exibirem suas habilidades de naturais de país bilíngue. Os ingleses com sua pronúncia própria, apesar de viverem tão perto, são minoria dentro do número 100. Também consigo distinguir o inglês dos indianos, claro que a aparência física e o modo como se vestem ajudam a diferenciá-los. Difícil, às vezes, era entender o inglês do meu colega nigeriano. As meninas de idioma espanhol também podem conversar bem animadamente. O norueguês, colega das aulas de francês para iniciantes, conversa com sua compatriota e ele sempre parece estar de bom humor. Ajuda muito o rosto vermelho que dá a ele um ar de bebê Johnson adulto. A única vez que ouvi português foi quando uma jovem lisboeta falava lentamente para que as amigas de fala espanhola tentassem entender o que dizia em português. Os franceses às vezes são minoria dentro do 100. A mim só resta usar inglês ou espanhol quando calho de encontrar os mexicanos que conheço. Aliás eu me sinto mais à vontade falando espanhol do que inglês ainda que eu conheça mais a gramática inglesa.

Para mim o 100 é uma assembléia de nações diversas que conseguem conviver pelo tempo de uma jornada de ônibus sem entrarem em guerra.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O sexo das coisas

Os programas humorísticos sempre gostaram de satirizar a confusão que os americanos e alemães fazem ao usarem o gênero nas frases: que menino bonitinha, que dia mais linda para ir ao praia. Pois é, eu ri muito com essas sátiras e agora seguramente devo ser o gringo que comete erros parecidos em francês. Enquanto português e espanhol em grande parte resolvem a questão dos gêneros dos adjetivos e algumas vezes dos substantivos, alterando o "O" por "A", em francês normalmente o "E" é adicionado às palavras para formar o feminino. É simples para os franceses mas é uma sutileza que meus ouvidos não distinguem bem e que minha pronúncia não diferencia corretamente para os ouvidos franceses.

Os falantes de inglês só diferenciam por gênero os seres humanos e animais principalmente os de estimação. Existe a exceção para os objetos, navio é tratado por "ELA". Não conheço a razão disso, talvez quem sabe porque os marinheiro nos tempos mais antigos das altezas inglesas casassem com os navios pela falta de mulheres. Para os brasileiros o navio é um brutamontes de aço para os ingleses uma donzela um tanto grande demais mesmo assim uma dama. Enfim os ingleses só se preocupam com gênero nos pronomes pessoais, no resto como adjetivos, formas nominais de verbos, vale a mesma forma indiferenciada por gênero.

Os seres humanos carregam o sexo entre as pernas, ainda que alguns o tragam dentro da cabeça o tempo todo. O sexo dos animais também está lá entre as pernas, tá certo que no caso de aves é meio difícil de dizer. Há aqueles que nem pernas têm, enfim os animais têm sexo, visíveis ou não. E agora me digam, onde achar o sexo do sapato, da mesa, do sofá mesmo que sirva para se fazer muito sexo, do pepino em toda sua forma fálica? Os falantes da língua da rainha, simplificaram tudo tirando o sexo das coisas, até pode ser que tenham exagerado talvez tirando o sexo das próprias vidas porém isso é assunto para estudos especializados. E eu que tenho de descobrir o sexo das coisas em francês porque a sexualidade dos objetos varia conforme a língua: o nariz é macho em português mas uma donzela em espanhol, assim como leite que é cabra macho no idioma de Camões mas derrama-se em feminilidade na língua de Cervantes. Ainda para me deixar mais louco, as palavras iniciadas em vogal perdem até mesmo o auxílio do artigo definido que me ajudaria na diferenciação.

O sexo das coisas, as coisas do sexo, o sexo das línguas, é o sexo onipresente nas nossas vidas.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Indo à academia 2

Finalmente estava de volta a uma academia. Passei a executar os exercícios que o professor da academia em Sampa havia prescrito para mim já que o instrutor daqui estava de férias no Brasil. Aliás consegui ter uma conversa com ele: eu conseguia entender algo do que ele me falava mas só conseguia conseguir responder com a cabeça ou sorrindo porque palavras em francês, porra nenhuma ou rien.

Falando basicamente bonjour, bonsoir, merci e au revoir, resolvi procurar sozinho os aparelhos que me permitiriam fazer os exercícios prescritos já que esse vocabulário não me ajudaria muito no papo com os outros freqüentadores. Alguns aparelhos estavam diante do meu nariz, em outros casos levei algumas semanas até eu perceber que serviam para o que eu queria. Eu não sou exatamente o tipo popular que sai cumprimentando todo mundo e acredito que para o povo da academia eu devo ser o mudinho que responde apenas esboçando sorriso ou fazendo algum gesto. Só não faço mais mímica para não aumentar o papelão de não falar francês. Talvez um dia leve uma porrada de algum dos armários que malham por lá por responder com sorriso a uma pergunta que deveria ser contestada com um sinto muito, meus pêsames, não fui eu, não vi ou algo por aí.

Em Sampa era comum pedir para revezar com alguém que estivesse usando o mesmo aparelho que precisaria usar. Nessa academia a coisa é diferente, o povo ama fazer infinitas repetições no mesmo aparelho. Penso que alguns caras querem adquirir em um único dia os músculos que Rambo levou anos para obter. E como pedir para revezar com alguém usando apenas bonjour ou bonsoir? como não dá, o melhor é buscar aparelho alternativo.

Roupas e comportamentos ficam para outro texto.

Indo à academia

Nos últimos vinte anos eu mantive atividade física pelo menos 4 vezes por semana, ao chegar em terras francesas meu ritmo mudou para 2 vezes por semana. E vou me desculpando, culpando os horários da escola e o bom transporte público porém não tão farto quanto eu gostaria. Antibes e Juan les Pins não têm a fartura de academias de Sampa, mesmo no meu bairro paulistano há muitas que ficam ao alcance de alguns minutos de caminhada. Estou matriculado numa academia de musculação, sem aulas de ginástica, com alguns esteiras e bicicletas para práticas aeróbicas. Bastante simples mesmo comparada à academia de bairro que eu freqüentava em São Paulo.

Eu levei quase 2 meses para me matricular em uma academia porém comecei a suar bem antes de iniciar as atividades físicas no momento em que fui às academias para saber de preços, horários e atividades. O meu francês hoje me permite falar com a dona da cafeteria da escola porque afinal de contas o menu não varia há 8 meses e nesse tempo já pude memorizar os nomes franceses de sanduíches, da única fruta e das bebidas. E como o preço também não varia, já entendo quando ela diz o quanto devo e claro a tela do caixa ajuda muito. Também já consigo desejar um bom final de semana. A dona deve me achar um abusado porque já respondi ao cumprimento dela com um "toi" quando deveria usar "vous" já que não temos qualquer intimidade. Espero que ela perdoe um estrangeiro que está tentando ser simpático e fazendo um esforço enorme para falar francês. Tanta volta para dizer que ao pedir informações nas academias o meu francês não ia além do bonjour ou bonsoir. Portanto era uma verdadeira ginástica entender o que me respondiam e mais difícil ainda era meu interlocutor entender o que eu queria saber. Nessas horas, eu era um perfeito analfabeto que falava português, espanhol ou inglês.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Faz 40 anos que Martin Luther King morreu

Há quarenta mataram Martin Luther. O grupo U2 presta homenagem a ele na música Pride.

Early morning, April four
Shot rings out in the Memphis sky.
Free at last, they took your life
They could not take your pride.

Mal raiou 4 de abril,
Tiros cruzaram os céus de Memphis,
Finalmente livre, acabaram com ele
Mas não com o orgulho dele.

Em busca do hímem perdido

- Semprei sonhei com esse momento
- Eu também, semprei imaginei como seria o momento em que me entregaria inteiramente ao homem da minha vida
- Já tinha desistido de me casar porque não acreditava que ainda existissem mulheres capazes de se guardarem para seus futuros maridos.
- Bobinho, claro que existem. As mulheres românticas e sonhadoras como eu jamais se entregariam a outro homem que não fosse o homem certo.
- Ângela, como te amo.

Vende-se hímens

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O teclqdo frqnces - O teclado francês

Sempre i,qginei aue no ,undo dq infor,qticq u, ,qptop nqo tivesse diferncq do outro pelo ,enos entres os pqises aue usq, o ,es,o qlfqbeto; Precisei chegqr q Frqnùq pqrq descobrir aue nqo; Co,emcqndo por este texto aue estou digitqndo aue por sinql estq i,co,preensivel pqrq tods; Nqdq pqrecido co, qauelqs experienciqs qnunciqdqs pelq internet de aue pode,os entender os textos com pqlqvrqs escritqs errqdqs desde aue q qlgu,qs letrqs chaves estejq,; presentes no txsto;

Erq qssi, aue meus textos pqreciq, nqs ,inhqs pri,eirqs experienciqs co, o teclqdo frqnces;

Tradução:

Semprei imaginei que no mundo da informática um laptop não tivesse diferenca de outro pelo menos entre os paises que usam o mesmo alfabeto. Precisei chegar na França para descobrir que não. Começando por este texto que estou digitando que por sinal está incompreensível para todos. Nada parecido com aquelas experiências anunciadas pela internet de que podemos entender os textos com palavras escritas erradas desde que algumas letras chaves estejam presentes no texto.

Anos tentando ser rápido ao teclar e quando preciso usar um micro na escola quase choro porque o trabalho perde velocidade e qualidade. Os logins e senhas nunca funcionam na primeira tentativa e muitas vezes nem na segunda tentativa. Algo banal como usar o teclado francês me lembra que falar de diversidade é fácil, praticá-la é outra estória completamente diferente. Usar outro teclado me mostra como é difícil me acostumar a outra disposição das letras, como anos de hábito "adestraram" meus dedos a reagir automaticamente, a não ver que teclas pressiono. E sigo apanhando para pressionar os diferentes teclados necessários para ver e aceitar as várias formas de pensar e ser que existem no mundo.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Disparada

Os mais antigos talvez lembrem, os mais novos provavelmente não terão a menor idéia. Na época da ditadura, houve um compositor, Geraldo Vandré, autor de duas músicas que marcaram o período: "Disparada" que ficou associada à interpretação de Jair Rodrigues e "Prá não dizer que não falei de flores" que foi proibida de ser tocada por muitos anos pelos militares.

Por que afinal estou falando de flores ou disparando? Ao ler a notícia do link, os versos de Disparada vieram imediatamente a minha mente. Os vaqueiros do episódio real parecem crer diferente do vaqueiro que relata a Disparada. É revoltante ver adultos humanos que agem como animais com crianças.
Boiadeiro muito tempo, laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente, pela vida segurei
Seguia como num sonho, e boiadeiro era um rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei

Então não pude seguir valente em lugar tenente
E dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente

Link para a notícia.





terça-feira, 1 de abril de 2008

1º de Abril: mentiras que poderiam ser verdade

Quando era criança a brincadeira favorita era pregar peça em alguém no dia da mentira. Acho que porque era uma época que a mentira era menos descarada, não freqüentava diariamente a mídia e porque ainda nos espantávamos com ela.

Aliás poderíamos inventar o dia da verdade, se fosse tempo demasiado para contar verdades, poderíamos começar com um dia de meia-hora de verdades. Apenas para continuar no faz-de-conta que tal se mentiras como essas fossem realidade:

  • O presidente do país sabe do que ocorre
  • O Rio é a cidade maravilhosa
  • O brasileiro é bem atendido nos hospitais públicos
  • Os alunos de escolas públicas aprendem
  • A polícia é uma das instituições mais respeitadas pela população
  • Os políticos passaram a honrar os votos que receberam
  • O mosquito da dengue não faz mais vítimas
  • O PT é um partido ético
Primeiro de Abril!

Mortes no paraíso

Fiquei quase comovido ao ver a primeira página do jornal a Folha de Sao Paulo de 01 de abril. Lula pousava a cabeça afetuosamente nos ombros de Sérgio Cabral, o governador do Rio de Janeiro, pareciam amigos fraternos, demonstrando o prazer de estarem juntos. Ambos parecem felizes, tranqüilos e serenos. Se eu fosse um marciano recém-chegado ao planeta seria levado a pensar que Lula preside o Paraíso, que Sérgio é governador do Jardim do Éden e que a vida não poderia ser melhor para o povo, nem a serpente atrapalharia. Nenhuma capa estamparia melhor a celebração do dia da mentira.

A mesma primeira página do mesmo jornal, em menor destaque, anuncia mais 13 mortes causadas pela dengue. E os dois governantes, tranquilos, como se as mortes tivessem ocorrido em Marte. Nem uma palavra à população que morre por incúria dos poderes públicos. Nenhum pedido de desculpa, nenhum ministro ou secretário demitido. Nem mesmo o usual discurso do presidente dizendo que não sabia ou que foi traído por não terem lhe avisado da gravidade da epidemia que se avizinhava. Até mesmo os jornais dão mais importância ao noticiário político.

As mortes não causam mais espanto no Brasil.


segunda-feira, 31 de março de 2008

O expresso italiano

Ainda acho que a melhor comida italiana está em São Paulo mas o melhor café está na Itália. Praticamente em todos os lugares em que entrei, o café expresso era uma delícia. Pena que a quantidade servida mal enche um terço de uma xícara pequena.

domingo, 30 de março de 2008

Que pena, não contamos mais com Oswaldo Cruz


Tão ruim quanto sofrer as conseqüências de uma escolha errada é não ter a opção de escolha. Na política brasileira dizemos que o povo faz as escolhas erradas mas se analisarmos os últimos resultados no Rio de Janeiro, especialmente na cidade, também veremos que as opções não eram boas.

Sou carioca e moro fora da cidade já faz alguns anos e cada vez que retorno tenho a sensação de que a cidade decaiu um pouco mais. O Rio já não é mais maravilhoso. O medo da violência já modificou a vida de todos na cidade. As pessoas temem as ameaças das balas assassinas que varam os céus da cidade e agora morrem de medo dos mosquitos. Os dirigentes da cidade, do estado e do país eleitos pelo povo que desprezam são no mínimo incompetentes e no máximo culpados pelas mortes causadas pela dengue.

É inadmissível que a cidade tenha regredido aos tempos de Oswaldo Cruz quando a febre amarela, também causada por mosquitos, era a praga da vez. O mais espantoso é que a crise que a cidade vive era prevista e simplesmente não se fez nada. A cidade tem um prefeito fanfarrão que simplesmente se lixa pela saúde da cidade, basta lembrar o caos que os hospitais viveram há pouco tempo atrás. O prefeito lutou contra a intervenção federal nos hospitais municipais e agora de novo mostra sua incompetência em matéria de saúde pública. O governador parecia uma rajada de ar fresco na política do estado depois de termos tido o duplo governo das crianças e bem mais rápido do que imaginei se mostrou sem competência para lutar contra os problemas do estado. E ainda assim tanto o prefeito quanto o governador continuarão na vida política, eleitos pelo mesmo povo que sofre com as balas, com os mosquitos, com a violência. Nenhum dos dois será penalizado pelas mortes causadas pela dengue.

O povo é livre para fazer as escolhas que quiser porém nenhuma escolha é sem conseqüências. Não sou dono da verdade mas os resultados que vejo me fazem crer que as escolhas foram erradas. Os mosquitos dirão se tenho razão.

Obama e o Brasil

Em épocas de eleições americanas o que não falta no Brasil são análises de como a vitória de um ou outro candidato à Casa Branca afetará o Brasil. Talvez tirando a última interferência americana no Golpe de 64, não creio que desde então algum presidente americano tenha perdido algumas horas de sono por causa do Brasil. Agora que as atenções se voltam para Obama, começamos a ler a análises sobre o recente discurso do candidato democrata a respeito das questões raciais americanas. E o assunto voltará ao centro da cena já que em 4 de abril completará 40 anos do assassinato de Martin Luther King. Sei lá se MLK em seus sonhos imaginou que um negro teria chances reais de vitória à presidência americana.

O interessante é que nossos analistas ou comentaristas são ótimos em discutir o tema americano e ninguém fala do racismo brasileiro como se o Brasil fosse o exemplo de democracia racial. Como vassoura e tapete nunca faltaram ao Brasil, o assunto continua no lugar onde sempre esteve. Obama só chegou a onde está porque o racismo americano nunca esteve debaixo do tapete. Somente no momento em que Luther King resolveu varrer pó de cima do assoalho é que vieram ações concretas para lutar contra o racismo. Imagino que sempre haverá algum racismo para ser combatido. Afinal as leis podem conceder reparações a um negro que tenha sido discriminado, mas não há lei que faça as pessoas gostarem umas das outras.

O que me incomoda muito no Brasil é tentar disfarçar racismo em injustiça social. O Brasil é racista, a cor da pele importa sim. Não me venham dizer que os negros não encontram bons empregos porque falta preparo educacional. Porém também é verdade que muitos têm o preparo mas não vão obter o emprego. No Brasil o racismo é tão arraigado que numa tentativa de se afastar das origens muitos negros tentam se classificar como pardos, morenos, jambos, mulatos escuros, mulatos claros. Poucos se lembram de que a escravidão no Brasil acabou apenas em 1888, quase chegamos a 1900 com escravos. Minha avó nasceu 8 anos após o final dessa instituição odiosa. Existem ações governamentais que tentam lidar com os resultados do racismo mas enquanto insistirmos que o Brasil é o paraíso da convivência das raças e etnias, continuaremos acumulando pó. Reconhecer o racismo é o primeiro passo para acabar com ele.

sábado, 29 de março de 2008

Os ônibus de Antibes

O transporte público na região é feito basicamente por ônibus que custam € 1, e pode ficar bem mais barato se comprar passe mensal ou se for menor de 26 anos. Também há trens que ligam todas as cidades da Riviera, desde Marselha até Vintemille, cidade italiana, logo após a fronteira com a França. O trem custa bem mais caro.

Andar de ônibus aqui não é o mesmo que no Brasil.

O ônibus é branco e rosa, tem ar condicionado, aquecimento, adaptado para receber cadeiras de rodas e carrinhos de bebês numa área específica e têm corredores estreitos. Há também um sistema visual e sonoro que anuncia cada parada de ônibus. A entrada é pela porta dianteira, a porta traseira de saída está localizada no meio do ônibus. O motorista é também responsável por cobrar a passagem de quem não tem passe. E cumprem os horários afixados nos pontos e não tem essa de pedir para o motorista abrir a porta quando pára no sinal luminoso (farol).

Os motoristas normalmente esperam o passageiro se levantar e chegar à calçada. Não ficam acelerando para apressar o pobre coitado nem arrancam para se divertir vendo o passageiro de cara no chão da calçada. Há muitas mulheres motoristas e várias muito bonitas, maquiadas, com anéis e pulseiras de ouro. Todos são exímios manobristas porque os carros estacionam de ambos os lados das ruas, muitos mal posicionados e os motoristas passam os ônibus a poucos centímetros dos demais veículos. Eu chego a me espantar como conseguem, poucas vezes eu os vi arranhar algum carro. Alguns motoristas param tão mal seus automóveis que pedem para que os ônibus arranhem seus carros.

Dependendo do horário os passageiros são formados quase exclusivamente por estudantes adolescentes, aposentados, gente voltando do mercado com seu carrinhos de compra ou mães empurrando seus carrinhos de bebês. Apesar de haver placas proibindo cães, os donos simplesmente ignoram este aviso e levam seus animais consigo dentro dos coletivos. Dentro dos trens é mesma coisa, e o povo já carrega cães de grande porte.

A vida dentro do ônibus pode ser da mais absoluta tranquilidade como numa manhã cedo de sábado. Porém a coisa começa a encrencar nas horas de maior procura. A entrada dos passageiros vira um problema porque muita gente vai procurar a droga da moeda de 1 euro apenas quando está na frente do motorista ou porque há os que resolvem bater papo com ele como se estivessem na sala da casa. A grande maioria dos que conseguem entrar no ônibus adora ficar entre a porta de entrada e a de saída, e o corredor estreito vira uma pista de obstáculos. Para chegar à parte traseira do ônibus que geralmente está vazia, é preciso passar por uma ou mais mulheres com seus carrinhos de bebê entalados no corredor, ter cuidado para não pisar no cachorrinho perdido entre um monte de pernas, driblar o carrinho de compras de uma dona e pular as malas de quem chegou do aeroporto. E todos parados, sem mover um músculo em direção à parte traseira vazia do ônibus. É engraçado ver as caras de todos parados, como se não dependessem deles facilitar a vida de quem quer entrar no ônibus. É a mais pura cara de "ué, eu não tenho nada a ver com isso". E não há razão para se aglomerar na frente porque os motoristas esperam que a velhinha se lembre de que o ônibus está no ponto onde ela deve descer, que ela se mova lentamente do banco até alcançar a porta e ainda que ela consiga descer em segurança até a calçada.

E quando o ônibus não tem gente espremida como lata de sardinha, o melhor é evitar sentar perto dos adolescentes que amam os últimos bancos. Fugir à esta regra de auto-preservação é ter de aguentar um monte de celulares tocando hip-hop, rap ou o que quer que seja. A maldição é que os celulares mais modernos têm baterias que aguentam horas tocando música no volume mais alto. Enquanto o meu não aguenta muito tempo de uma simples e inocente conversa. O problema pode ficar maior se uma ou mais meninas com presilhas prendendo as franjinhas do cabelo tingido de preto, maquiagem preta em torno dos olhos, resolver improvisar um karokê para acompanhar a sua cantora favorita que berra no celular. Não importa se o rap é em francês ou inglês, a tortura é mesma.

Com tudo isso eu ainda acho que é melhor a corrida de obstáculo dentro de ônibus francês ou adolescente com celular berrando rap do que escutar "perdeu" de um assaltante, abaixar-se para não ser encontrado por uma bala ou pular das janelas de um ônibus em chamas.

Automóveis e calçadas


Andar pelo Boulevard Poincaré em Juan les Pins e pelas ruas do Rio de Janeiro tem mais em comum do que apenas a proximidade do mar. Os motoristas de Juan les Pins também estacionam seus automóveis sobre as calçadas, como se estas fossem reservadas aos carros e não aos pedestres. Felizmente esse comportamento está praticamente restrito a esta avenida.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Nem tudo são flores mas nem sempre são espinhos

Há bons programas de documentários na TV francesa. Nesse momento está sendo exibido um documentário sobre o atendimento médico que os navios da Marinha Brasileira realizam na Amazônia. É bom ver o Brasil sendo exibido de modo positivo e não assistir à prisão de brasileiros e brasileiras na Europa.

E a França volta a ter uma rainha...

Carla Bruni parece que trouxe de volta aos franceses um certo orgulho perdido. Ontem os comentaristas da TV francesa não escondiam uma satisfação mal disfarçada de verem a imprensa britânica cobrir a primeira-dama francesa de elogios. Um jornal chamou-a de Rainha da França, o que é nada mau para uma italiana. Entretanto, ela deveria ficar preocupada com o título real já que os franceses não curtiram muito a última rainha a ponto de ela ter perdido a cabeça.

Bons ventos vindos da Indonésia

Diversas formas de avaliar o mesmo assunto fazem bem ao mundo. Acabei de ler a notícias de que teólogos muçulmanos da Indonésia concluiram que o homossexualismo foi criado por Deus. Surpreendente se considerarmos que muitos teólogos ocidentais continuam afirmando que Deus fez os homens héteros e o Diabo criou os que fogem à regra.

Link para a notícia.

quinta-feira, 27 de março de 2008

E por que não?

O desejo apareceu e os empurrões necessários vieram, e dou por inaugurado meu porta-voz "online".

O título, esse veio de tanto ver escrito nos prédios franceses: Liberté, Égalité e Fraternité. Para 1789, expressaram os ideais da Revolução Francesa. Seguramente na época a cor da pele dos franceses era mais clara, os imigrantes ainda não estavam estabelecidos aqui, a língua francesa era para o mundo o que o inglês é hoje, as mulheres eram donas de casa e os maridos eram donos das esposas, e por aí vai. Em suma era mais fácil pensar em liberdade, igualidade e fraternidade para um país mais homogêneo ainda que economicamente díspare. E eu metido a besta, resolvi achar que faltava algo ao trinômio: diversidade.

Não sou filósofo, não li os filósofos, nem sei se Aristóteles precedeu Sócrates ou se foi o contrário, não obstante tenho o direito expressar o que penso. Todo esse discurso para explicar porque diversidade no título e não diferença mesmo que sejam sinônimos. Não quis usar diferença porque ao dizer que o outro é diferente, eu estou me fazendo de referência, portanto é o outro que está fora do padrão. Prefiro diversidade, várias formas de ser, de amar, de ver o mundo, de acreditar em Deus, de ser de outras culturas, de falar outros idiomas, de deixar cada um ser um ser humano único.

E portanto, liberdade, igualdade, fraternidade e diversidade para o mundo inteiro. A França foi apenas a musa do título.