segunda-feira, 31 de março de 2008

O expresso italiano

Ainda acho que a melhor comida italiana está em São Paulo mas o melhor café está na Itália. Praticamente em todos os lugares em que entrei, o café expresso era uma delícia. Pena que a quantidade servida mal enche um terço de uma xícara pequena.

domingo, 30 de março de 2008

Que pena, não contamos mais com Oswaldo Cruz


Tão ruim quanto sofrer as conseqüências de uma escolha errada é não ter a opção de escolha. Na política brasileira dizemos que o povo faz as escolhas erradas mas se analisarmos os últimos resultados no Rio de Janeiro, especialmente na cidade, também veremos que as opções não eram boas.

Sou carioca e moro fora da cidade já faz alguns anos e cada vez que retorno tenho a sensação de que a cidade decaiu um pouco mais. O Rio já não é mais maravilhoso. O medo da violência já modificou a vida de todos na cidade. As pessoas temem as ameaças das balas assassinas que varam os céus da cidade e agora morrem de medo dos mosquitos. Os dirigentes da cidade, do estado e do país eleitos pelo povo que desprezam são no mínimo incompetentes e no máximo culpados pelas mortes causadas pela dengue.

É inadmissível que a cidade tenha regredido aos tempos de Oswaldo Cruz quando a febre amarela, também causada por mosquitos, era a praga da vez. O mais espantoso é que a crise que a cidade vive era prevista e simplesmente não se fez nada. A cidade tem um prefeito fanfarrão que simplesmente se lixa pela saúde da cidade, basta lembrar o caos que os hospitais viveram há pouco tempo atrás. O prefeito lutou contra a intervenção federal nos hospitais municipais e agora de novo mostra sua incompetência em matéria de saúde pública. O governador parecia uma rajada de ar fresco na política do estado depois de termos tido o duplo governo das crianças e bem mais rápido do que imaginei se mostrou sem competência para lutar contra os problemas do estado. E ainda assim tanto o prefeito quanto o governador continuarão na vida política, eleitos pelo mesmo povo que sofre com as balas, com os mosquitos, com a violência. Nenhum dos dois será penalizado pelas mortes causadas pela dengue.

O povo é livre para fazer as escolhas que quiser porém nenhuma escolha é sem conseqüências. Não sou dono da verdade mas os resultados que vejo me fazem crer que as escolhas foram erradas. Os mosquitos dirão se tenho razão.

Obama e o Brasil

Em épocas de eleições americanas o que não falta no Brasil são análises de como a vitória de um ou outro candidato à Casa Branca afetará o Brasil. Talvez tirando a última interferência americana no Golpe de 64, não creio que desde então algum presidente americano tenha perdido algumas horas de sono por causa do Brasil. Agora que as atenções se voltam para Obama, começamos a ler a análises sobre o recente discurso do candidato democrata a respeito das questões raciais americanas. E o assunto voltará ao centro da cena já que em 4 de abril completará 40 anos do assassinato de Martin Luther King. Sei lá se MLK em seus sonhos imaginou que um negro teria chances reais de vitória à presidência americana.

O interessante é que nossos analistas ou comentaristas são ótimos em discutir o tema americano e ninguém fala do racismo brasileiro como se o Brasil fosse o exemplo de democracia racial. Como vassoura e tapete nunca faltaram ao Brasil, o assunto continua no lugar onde sempre esteve. Obama só chegou a onde está porque o racismo americano nunca esteve debaixo do tapete. Somente no momento em que Luther King resolveu varrer pó de cima do assoalho é que vieram ações concretas para lutar contra o racismo. Imagino que sempre haverá algum racismo para ser combatido. Afinal as leis podem conceder reparações a um negro que tenha sido discriminado, mas não há lei que faça as pessoas gostarem umas das outras.

O que me incomoda muito no Brasil é tentar disfarçar racismo em injustiça social. O Brasil é racista, a cor da pele importa sim. Não me venham dizer que os negros não encontram bons empregos porque falta preparo educacional. Porém também é verdade que muitos têm o preparo mas não vão obter o emprego. No Brasil o racismo é tão arraigado que numa tentativa de se afastar das origens muitos negros tentam se classificar como pardos, morenos, jambos, mulatos escuros, mulatos claros. Poucos se lembram de que a escravidão no Brasil acabou apenas em 1888, quase chegamos a 1900 com escravos. Minha avó nasceu 8 anos após o final dessa instituição odiosa. Existem ações governamentais que tentam lidar com os resultados do racismo mas enquanto insistirmos que o Brasil é o paraíso da convivência das raças e etnias, continuaremos acumulando pó. Reconhecer o racismo é o primeiro passo para acabar com ele.

sábado, 29 de março de 2008

Os ônibus de Antibes

O transporte público na região é feito basicamente por ônibus que custam € 1, e pode ficar bem mais barato se comprar passe mensal ou se for menor de 26 anos. Também há trens que ligam todas as cidades da Riviera, desde Marselha até Vintemille, cidade italiana, logo após a fronteira com a França. O trem custa bem mais caro.

Andar de ônibus aqui não é o mesmo que no Brasil.

O ônibus é branco e rosa, tem ar condicionado, aquecimento, adaptado para receber cadeiras de rodas e carrinhos de bebês numa área específica e têm corredores estreitos. Há também um sistema visual e sonoro que anuncia cada parada de ônibus. A entrada é pela porta dianteira, a porta traseira de saída está localizada no meio do ônibus. O motorista é também responsável por cobrar a passagem de quem não tem passe. E cumprem os horários afixados nos pontos e não tem essa de pedir para o motorista abrir a porta quando pára no sinal luminoso (farol).

Os motoristas normalmente esperam o passageiro se levantar e chegar à calçada. Não ficam acelerando para apressar o pobre coitado nem arrancam para se divertir vendo o passageiro de cara no chão da calçada. Há muitas mulheres motoristas e várias muito bonitas, maquiadas, com anéis e pulseiras de ouro. Todos são exímios manobristas porque os carros estacionam de ambos os lados das ruas, muitos mal posicionados e os motoristas passam os ônibus a poucos centímetros dos demais veículos. Eu chego a me espantar como conseguem, poucas vezes eu os vi arranhar algum carro. Alguns motoristas param tão mal seus automóveis que pedem para que os ônibus arranhem seus carros.

Dependendo do horário os passageiros são formados quase exclusivamente por estudantes adolescentes, aposentados, gente voltando do mercado com seu carrinhos de compra ou mães empurrando seus carrinhos de bebês. Apesar de haver placas proibindo cães, os donos simplesmente ignoram este aviso e levam seus animais consigo dentro dos coletivos. Dentro dos trens é mesma coisa, e o povo já carrega cães de grande porte.

A vida dentro do ônibus pode ser da mais absoluta tranquilidade como numa manhã cedo de sábado. Porém a coisa começa a encrencar nas horas de maior procura. A entrada dos passageiros vira um problema porque muita gente vai procurar a droga da moeda de 1 euro apenas quando está na frente do motorista ou porque há os que resolvem bater papo com ele como se estivessem na sala da casa. A grande maioria dos que conseguem entrar no ônibus adora ficar entre a porta de entrada e a de saída, e o corredor estreito vira uma pista de obstáculos. Para chegar à parte traseira do ônibus que geralmente está vazia, é preciso passar por uma ou mais mulheres com seus carrinhos de bebê entalados no corredor, ter cuidado para não pisar no cachorrinho perdido entre um monte de pernas, driblar o carrinho de compras de uma dona e pular as malas de quem chegou do aeroporto. E todos parados, sem mover um músculo em direção à parte traseira vazia do ônibus. É engraçado ver as caras de todos parados, como se não dependessem deles facilitar a vida de quem quer entrar no ônibus. É a mais pura cara de "ué, eu não tenho nada a ver com isso". E não há razão para se aglomerar na frente porque os motoristas esperam que a velhinha se lembre de que o ônibus está no ponto onde ela deve descer, que ela se mova lentamente do banco até alcançar a porta e ainda que ela consiga descer em segurança até a calçada.

E quando o ônibus não tem gente espremida como lata de sardinha, o melhor é evitar sentar perto dos adolescentes que amam os últimos bancos. Fugir à esta regra de auto-preservação é ter de aguentar um monte de celulares tocando hip-hop, rap ou o que quer que seja. A maldição é que os celulares mais modernos têm baterias que aguentam horas tocando música no volume mais alto. Enquanto o meu não aguenta muito tempo de uma simples e inocente conversa. O problema pode ficar maior se uma ou mais meninas com presilhas prendendo as franjinhas do cabelo tingido de preto, maquiagem preta em torno dos olhos, resolver improvisar um karokê para acompanhar a sua cantora favorita que berra no celular. Não importa se o rap é em francês ou inglês, a tortura é mesma.

Com tudo isso eu ainda acho que é melhor a corrida de obstáculo dentro de ônibus francês ou adolescente com celular berrando rap do que escutar "perdeu" de um assaltante, abaixar-se para não ser encontrado por uma bala ou pular das janelas de um ônibus em chamas.

Automóveis e calçadas


Andar pelo Boulevard Poincaré em Juan les Pins e pelas ruas do Rio de Janeiro tem mais em comum do que apenas a proximidade do mar. Os motoristas de Juan les Pins também estacionam seus automóveis sobre as calçadas, como se estas fossem reservadas aos carros e não aos pedestres. Felizmente esse comportamento está praticamente restrito a esta avenida.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Nem tudo são flores mas nem sempre são espinhos

Há bons programas de documentários na TV francesa. Nesse momento está sendo exibido um documentário sobre o atendimento médico que os navios da Marinha Brasileira realizam na Amazônia. É bom ver o Brasil sendo exibido de modo positivo e não assistir à prisão de brasileiros e brasileiras na Europa.

E a França volta a ter uma rainha...

Carla Bruni parece que trouxe de volta aos franceses um certo orgulho perdido. Ontem os comentaristas da TV francesa não escondiam uma satisfação mal disfarçada de verem a imprensa britânica cobrir a primeira-dama francesa de elogios. Um jornal chamou-a de Rainha da França, o que é nada mau para uma italiana. Entretanto, ela deveria ficar preocupada com o título real já que os franceses não curtiram muito a última rainha a ponto de ela ter perdido a cabeça.

Bons ventos vindos da Indonésia

Diversas formas de avaliar o mesmo assunto fazem bem ao mundo. Acabei de ler a notícias de que teólogos muçulmanos da Indonésia concluiram que o homossexualismo foi criado por Deus. Surpreendente se considerarmos que muitos teólogos ocidentais continuam afirmando que Deus fez os homens héteros e o Diabo criou os que fogem à regra.

Link para a notícia.

quinta-feira, 27 de março de 2008

E por que não?

O desejo apareceu e os empurrões necessários vieram, e dou por inaugurado meu porta-voz "online".

O título, esse veio de tanto ver escrito nos prédios franceses: Liberté, Égalité e Fraternité. Para 1789, expressaram os ideais da Revolução Francesa. Seguramente na época a cor da pele dos franceses era mais clara, os imigrantes ainda não estavam estabelecidos aqui, a língua francesa era para o mundo o que o inglês é hoje, as mulheres eram donas de casa e os maridos eram donos das esposas, e por aí vai. Em suma era mais fácil pensar em liberdade, igualidade e fraternidade para um país mais homogêneo ainda que economicamente díspare. E eu metido a besta, resolvi achar que faltava algo ao trinômio: diversidade.

Não sou filósofo, não li os filósofos, nem sei se Aristóteles precedeu Sócrates ou se foi o contrário, não obstante tenho o direito expressar o que penso. Todo esse discurso para explicar porque diversidade no título e não diferença mesmo que sejam sinônimos. Não quis usar diferença porque ao dizer que o outro é diferente, eu estou me fazendo de referência, portanto é o outro que está fora do padrão. Prefiro diversidade, várias formas de ser, de amar, de ver o mundo, de acreditar em Deus, de ser de outras culturas, de falar outros idiomas, de deixar cada um ser um ser humano único.

E portanto, liberdade, igualdade, fraternidade e diversidade para o mundo inteiro. A França foi apenas a musa do título.