quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Torre de Babel é cor-de-rosa


A primeira vez que vi o Express 100, imediatamente me veio à cabeça Priscila, a Rainha do Deserto, que é o nome do ônibus do filme australiano. E creio que essa será a imagem que sempre terei do Express 100. O ônibus é todo pintado de rosa por fora e com estofado da mesma cor nos assentos. O painel frontal que leva o número 100 é cheio de brilho, bem chamativo não importa a hora do dia, por dentro tem luzes coloridas, tanto pode ser fresco quanto quente dependendo da estação do ano ou da vontade do motorista. Diferentemente do Priscila do filme, o número 100 não carrega transformistas em show ambulante pela Riviera Francesa. O número 100 liga a cidade de Antibes a Sophia Antipolis onde estão localizadas as empresas de alta tecnologia da região e à escola onde estudo. É expresso porque tem poucas paradas e com a grande vantagem de ser gratuito.

Em alguns horários, o número 100 é simplesmente uma torre de Babel quando os funcionários estrangeiros das empresas de Sophia e os alunos estrangeiros da escola que frequento coincidem de estar no ônibus. Os marroquinos conversam animadamente em árabe e francês, alternam entre esses idiomas sem perceberem e eventualmente usam o inglês. Em outra área, os chineses de Hong-Kong, de Singapura ou da China continental podem estar conversando não tão animadamente quanto os marroquinos. Não consigo distinguir entre os idiomas falados pelos jovens do Laos, da Tailândia, do Cambodja, do Vietnã entretanto todos têm em comum a enorme quantidade de sons nasais. Dá para sentir os sons sendo emitidos pelos narizes.

Para mim o sotaque dos canadenses é o mesmo dos americanos que em algumas horas parecem ser o maior grupo de estrangeiros do pedaço. Alguns canadenses se dão o luxo de exibirem suas habilidades de naturais de país bilíngue. Os ingleses com sua pronúncia própria, apesar de viverem tão perto, são minoria dentro do número 100. Também consigo distinguir o inglês dos indianos, claro que a aparência física e o modo como se vestem ajudam a diferenciá-los. Difícil, às vezes, era entender o inglês do meu colega nigeriano. As meninas de idioma espanhol também podem conversar bem animadamente. O norueguês, colega das aulas de francês para iniciantes, conversa com sua compatriota e ele sempre parece estar de bom humor. Ajuda muito o rosto vermelho que dá a ele um ar de bebê Johnson adulto. A única vez que ouvi português foi quando uma jovem lisboeta falava lentamente para que as amigas de fala espanhola tentassem entender o que dizia em português. Os franceses às vezes são minoria dentro do 100. A mim só resta usar inglês ou espanhol quando calho de encontrar os mexicanos que conheço. Aliás eu me sinto mais à vontade falando espanhol do que inglês ainda que eu conheça mais a gramática inglesa.

Para mim o 100 é uma assembléia de nações diversas que conseguem conviver pelo tempo de uma jornada de ônibus sem entrarem em guerra.

Um comentário:

Jotta disse...

E não deixa de ser curioso o facto de a cor do ônibus (do autocarro) ser... cor-de-rosa. Tudo em sã convivência, dizes tu. E não deixa se curioso a bandeira arco-íris ser muitas vezes associada à «Paz». Não deixa de ser curioso.