quarta-feira, 14 de maio de 2008

Desigualdade racial

Ontem, 13 de maio, se comemorou os 120 anos do fim da escravidão no Brasil. Olhando os dados referentes aos negros, falta muito ainda para se comemorar. O IBGE diz que até o final deste ano, negros e pardos superarão a população branca. Em 2010, serão a maioria absoluta. A renda dos negros, se mantidos os atuais programas de distribuição de renda, será equivalente a dos brancos apenas em 2040. No domingo veio matéria no jornal dizendo que somente 3,5% dos cargos de chefias eram ocupados por negros. E o Supremo Tribunal Federal deverá julgar se o sistema de cotas para negros vigentes em algumas universidades é constitucional.

Os grupos a favor e contra as cotas esgrimem seus argumentos para embasar suas convicções. O argumento mais usado contra as cotas é que o problema reside na falência do ensino básico que prejudica os mais pobres, grupo no qual se enquadra a maioria dos negros. Sem um ensino básico de qualidade, poucos pobres, incluídos os negros, chegarão à universidade. Eu também acredito que seja verdade porém chegar à universidade não resolverá a questão. Na TV uma procuradora do Distrito Federal, que era contra as cotas, usou o argumento mais batido, surrado e falso para defender sua posição. Segundo ela, o que há no Brasil é o preconceito econômico: negro rico vira branco e pobre branco vira negro.

Para mim os grupos a favor e contra as cotas parecem esquecer que o simples fato de alguém entrar numa faculdade não garantirá que a discriminação deixará de existir. Hoje em dia há muitos negros e pardos com boa educação e que nem por isso ocuparão cargos de chefia. Entre um negro e um branco em condições de igualdade, a maioria das empresas privadas optarão pelo negro.

Quando fazia o mestrado, tive de fazer um trabalho sobre recrutamento e seleção. Eu recorri ao banco onde eu trabalhei e contei com a ajuda da responsável por RH da área onde fui funcionário. Ao me falar dos critérios de seleção, ela me fez a seguinte pergunta: quantos negros você já viu trabalhando no banco? Ela mesmo respondeu, existe uma norma não escrita mas o banco não admite negros. Eu perdi uma chance de ouro de perguntar por que eu e outro colega havíamos sido admitidos.

Há pouco mais de 2 anos, conversando com um colega de trabalhei, ele me disse que estava selecionando pessoas para trabalharem com ele. A mulher de RH do banco ligou para ele dizendo que tinha um candidato mas que havia um pequeno problema, ele era negro. O meu amigo teve de se controlar para não responder indignado porque ele também era negro. E seguramente eu deixei de ser aprovado em entrevistas ou promovido por ser negro. Para a maioria das empresas, negro de terno e gravata é segurança de loja ou de casa noturna. As empresas privadas sempre utilizarão o argumento mágico: o candidato ou funcionário não tem o perfil exigido para tal função.

A discriminação por causa da cor da pele existe e não é apenas uma questão de escolaridade ou de situação econômica. E o pior de tudo é que é quase impossível de ser provada. Não basta dar acesso à universidade, é necessário garantir que os ambientes de trabalho reflitam a distribuição demográfica da população brasileira. Não dá para garantir que não existe preconceito em empresas brasileiras que são tão brancas quanto empresas nórdicas.

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