domingo, 30 de março de 2008

Obama e o Brasil

Em épocas de eleições americanas o que não falta no Brasil são análises de como a vitória de um ou outro candidato à Casa Branca afetará o Brasil. Talvez tirando a última interferência americana no Golpe de 64, não creio que desde então algum presidente americano tenha perdido algumas horas de sono por causa do Brasil. Agora que as atenções se voltam para Obama, começamos a ler a análises sobre o recente discurso do candidato democrata a respeito das questões raciais americanas. E o assunto voltará ao centro da cena já que em 4 de abril completará 40 anos do assassinato de Martin Luther King. Sei lá se MLK em seus sonhos imaginou que um negro teria chances reais de vitória à presidência americana.

O interessante é que nossos analistas ou comentaristas são ótimos em discutir o tema americano e ninguém fala do racismo brasileiro como se o Brasil fosse o exemplo de democracia racial. Como vassoura e tapete nunca faltaram ao Brasil, o assunto continua no lugar onde sempre esteve. Obama só chegou a onde está porque o racismo americano nunca esteve debaixo do tapete. Somente no momento em que Luther King resolveu varrer pó de cima do assoalho é que vieram ações concretas para lutar contra o racismo. Imagino que sempre haverá algum racismo para ser combatido. Afinal as leis podem conceder reparações a um negro que tenha sido discriminado, mas não há lei que faça as pessoas gostarem umas das outras.

O que me incomoda muito no Brasil é tentar disfarçar racismo em injustiça social. O Brasil é racista, a cor da pele importa sim. Não me venham dizer que os negros não encontram bons empregos porque falta preparo educacional. Porém também é verdade que muitos têm o preparo mas não vão obter o emprego. No Brasil o racismo é tão arraigado que numa tentativa de se afastar das origens muitos negros tentam se classificar como pardos, morenos, jambos, mulatos escuros, mulatos claros. Poucos se lembram de que a escravidão no Brasil acabou apenas em 1888, quase chegamos a 1900 com escravos. Minha avó nasceu 8 anos após o final dessa instituição odiosa. Existem ações governamentais que tentam lidar com os resultados do racismo mas enquanto insistirmos que o Brasil é o paraíso da convivência das raças e etnias, continuaremos acumulando pó. Reconhecer o racismo é o primeiro passo para acabar com ele.

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