sábado, 29 de março de 2008

Os ônibus de Antibes

O transporte público na região é feito basicamente por ônibus que custam € 1, e pode ficar bem mais barato se comprar passe mensal ou se for menor de 26 anos. Também há trens que ligam todas as cidades da Riviera, desde Marselha até Vintemille, cidade italiana, logo após a fronteira com a França. O trem custa bem mais caro.

Andar de ônibus aqui não é o mesmo que no Brasil.

O ônibus é branco e rosa, tem ar condicionado, aquecimento, adaptado para receber cadeiras de rodas e carrinhos de bebês numa área específica e têm corredores estreitos. Há também um sistema visual e sonoro que anuncia cada parada de ônibus. A entrada é pela porta dianteira, a porta traseira de saída está localizada no meio do ônibus. O motorista é também responsável por cobrar a passagem de quem não tem passe. E cumprem os horários afixados nos pontos e não tem essa de pedir para o motorista abrir a porta quando pára no sinal luminoso (farol).

Os motoristas normalmente esperam o passageiro se levantar e chegar à calçada. Não ficam acelerando para apressar o pobre coitado nem arrancam para se divertir vendo o passageiro de cara no chão da calçada. Há muitas mulheres motoristas e várias muito bonitas, maquiadas, com anéis e pulseiras de ouro. Todos são exímios manobristas porque os carros estacionam de ambos os lados das ruas, muitos mal posicionados e os motoristas passam os ônibus a poucos centímetros dos demais veículos. Eu chego a me espantar como conseguem, poucas vezes eu os vi arranhar algum carro. Alguns motoristas param tão mal seus automóveis que pedem para que os ônibus arranhem seus carros.

Dependendo do horário os passageiros são formados quase exclusivamente por estudantes adolescentes, aposentados, gente voltando do mercado com seu carrinhos de compra ou mães empurrando seus carrinhos de bebês. Apesar de haver placas proibindo cães, os donos simplesmente ignoram este aviso e levam seus animais consigo dentro dos coletivos. Dentro dos trens é mesma coisa, e o povo já carrega cães de grande porte.

A vida dentro do ônibus pode ser da mais absoluta tranquilidade como numa manhã cedo de sábado. Porém a coisa começa a encrencar nas horas de maior procura. A entrada dos passageiros vira um problema porque muita gente vai procurar a droga da moeda de 1 euro apenas quando está na frente do motorista ou porque há os que resolvem bater papo com ele como se estivessem na sala da casa. A grande maioria dos que conseguem entrar no ônibus adora ficar entre a porta de entrada e a de saída, e o corredor estreito vira uma pista de obstáculos. Para chegar à parte traseira do ônibus que geralmente está vazia, é preciso passar por uma ou mais mulheres com seus carrinhos de bebê entalados no corredor, ter cuidado para não pisar no cachorrinho perdido entre um monte de pernas, driblar o carrinho de compras de uma dona e pular as malas de quem chegou do aeroporto. E todos parados, sem mover um músculo em direção à parte traseira vazia do ônibus. É engraçado ver as caras de todos parados, como se não dependessem deles facilitar a vida de quem quer entrar no ônibus. É a mais pura cara de "ué, eu não tenho nada a ver com isso". E não há razão para se aglomerar na frente porque os motoristas esperam que a velhinha se lembre de que o ônibus está no ponto onde ela deve descer, que ela se mova lentamente do banco até alcançar a porta e ainda que ela consiga descer em segurança até a calçada.

E quando o ônibus não tem gente espremida como lata de sardinha, o melhor é evitar sentar perto dos adolescentes que amam os últimos bancos. Fugir à esta regra de auto-preservação é ter de aguentar um monte de celulares tocando hip-hop, rap ou o que quer que seja. A maldição é que os celulares mais modernos têm baterias que aguentam horas tocando música no volume mais alto. Enquanto o meu não aguenta muito tempo de uma simples e inocente conversa. O problema pode ficar maior se uma ou mais meninas com presilhas prendendo as franjinhas do cabelo tingido de preto, maquiagem preta em torno dos olhos, resolver improvisar um karokê para acompanhar a sua cantora favorita que berra no celular. Não importa se o rap é em francês ou inglês, a tortura é mesma.

Com tudo isso eu ainda acho que é melhor a corrida de obstáculo dentro de ônibus francês ou adolescente com celular berrando rap do que escutar "perdeu" de um assaltante, abaixar-se para não ser encontrado por uma bala ou pular das janelas de um ônibus em chamas.

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