quarta-feira, 7 de maio de 2008

E tudo continua na mesma

Quando estava na França nunca deixei de ficar a par do que ocorria no Brasil porque lia as notícias do país na internet. Entretanto sempre pareciam notícias de um lugar distante que por acaso eu conhecia. Estando de volta a Sampa, os noticiários da TV parecem gritar nos meus ouvidos: bem vindo à realidade da violência dos campos e cidades, dos políticos patéticos, da impunidade dos criminosos, da corrupção escancarada e daqueles que querem seus 5 minutos de fama em cima da desgraça alheia.

O mandante da morte da missionária americana foi absolvido de um crime que passa a não ter causa. No norte posseiros de terras públicas e índios que acham que não precisam respeitar leis, enfrentam-se nas barbas das forças de segurança federais. Político acusado de corrupção repete o chavão de que está sendo vítima de complô por defender os trabalhadores. Um congresso que causaria menos danos ao país se seus membros ficassem em casa recebendo seus gordos salários. Nesses últimos anos simplesmente não fizeram nada a não ser livrarem seus pares dos processos de má-conduta. E por último, o bombardeio contínuo de notícias e detalhes da morte da menina jogada pela janela. E os aproveitadores de plantão que querem aparecer como se estivessem genuinamente preocupados com justiça: policiais, promotores, assistentes sociais, vizinhos, mídia todos têm algo a dizer sobre um crime bárbaro e para isso convocam coletivas de imprensa. As outras milhares de mortes de inocentes parecem que ocorreram no outro lado do mundo, nenhuma indignação.

Bastou a economia do país voltar a crescer para entrarmos no paraíso, todas as mazelas parecem bobagem perto dos recordes de vendas do comércio, dos milhões de automóveis produzidos, das descobertas de reservas de petróleo. Se eu não soubesse que estava no Brasil, poderia ter a sensação de ter desembarcado em outro país.

Um comentário:

Jotta disse...

A saudosa, a grande Elis Regina, já cantava «alô, alô, daqui quem fala é a Terra, pra variar estamos em guerra, ...». Há coisas que nunca mudam, infelizmente. Mesmo que se mude de latitude ou longitude, as coisas repetem-se. E vamos assim: de mal a pior.
A merda, a grande merda, é já se achar que a merda em que se está pode já muito bem ser o melhor que podemos esperar.
Akele Abraço aqui de Portugal